Hoje é Dia de Cecília!
Hoje é o dia de Cecília Meireles! Há 107 anos, nascia esta grande escritora que nos emociona sempre que a lemos. Leonor Cordeiro do blog “Na dança das palavras” organizou esta bela homenagem e eu não podia deixar de participar.Foi muito difícil escolher uma poesia ou crônica somente para homenageá-la. Por isso, aqui estão minhas escolhas: três poemas e uma crônica, pois Cecília também escreveu belíssimas crônicas. A que segue, por exemplo, traduz aquele sentimento gostoso de entrar numa livraria e ser ‘chamada pelos livros’ e que naturalmente vamos criando nossas intertextualidades com as leituras que fazemos. Obrigada, Leonor!
Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.
“O Amor…
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!”
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta
Um livrinho e muitas saudades
Entro numa livraria sem estar procurando livro nenhum (pelo menos, é o que suponho, uma vez que nos conhecemos tão pouco e ignoramos a razão de tantos dos nossos atos).
Entro numa livraria como quem passeia pelo mundo do espírito, encontrando pelas prateleiras nomes antigos e modernos, saudando as velhas amizades, recordando tempos de estudar, tempos de sonhar, tempos de viver.
De repente, um livrinho chama por mim. Não chama apenas minha atenção: chama, realmente, por mim: “Vem cá, me leva!”, diz ele. E diz isso pelo desenho da capa, que é um desenho infantil com várias crianças, um burburinho e duas cobras. Tão graciosa é a capa que nem procuro saber o nome do livro nem o do autor. Basta-me contemplar o desenho. E, como não estou inclinada a comprar livros, sigo adiante. Mas a voz, uma pequena voz discreta, continua a pedir-me: “Venha cá! Me leva!”.
Passo pelos velhos clássicos, encontro-me com os românticos, topo com os contemporâneos… E a pequena voz a chamar-me “Vem cá!”…
Ora, essas lembranças são todas saudades. Câmara Laye, que escreve em francês, decerto ignora essa palavra intraduzível; mas o que ele nos transmite em seu delicioso livrinho é sobretudo uma sucessão de saudades.
É de saudade a sua experiência da circuncisão, saudade da infância que fica pra trás, quando os deveres da adolescência se aproximam
É de saudade o instante em que se separa dos pais, da sua pequena cidade, do seu mundo cotidiano, para ingressar numa escola distante.
É de saudade sua aflição diante da morte de um amigo, e ao despedir-se da bela namorada. E são lágrimas de saudade que caem dos seus olhos na terra africana, quando parte para a França a fim de se aperfeiçoar nos seus estudos. Saudades. Saudades! Saudades….
Saudade da boa gente negra que contava histórias, que ensinava a amar todas as criaturas de Deus, que possuía um dom de carinho, de doçúra, uma riqueza de coração como a das mulheres de que este menino fala
Saudade… Ah! Meu bom menino africano, como foi que tanta coisa se estragou, que tanta coisa se perdeu? A bela Maria perguntava-te em Dacar: “Estás contente de partir?” E tu dizias: “Não sei…Não creio….” Ela insistia: “Voltarás.” E tu dizias que sim…. que sim….
(Alguma coisa volta, neste mundo? Ah! Se certas coisas pudessem voltar!)
Do livro: Escolha o seu sonho
Cecília Meireles

Esse texto foi postado em sexta-feira, 7 de novembro de 2008 às 00:00 nas categorias Blogagem Coletiva, Cecília Meireles. Você pode seguir as respostas pelo RSS 2.0. Você pode deixar um comentário, ou trackback do teu próprio site.
7 de novembro de 2008 às 07:26
Bom dia Soninha!
Bela postagem! Tres poesias belissimas!
“Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.”
Amei!
Beijos
Meire
7 de novembro de 2008 às 08:06
Bom dia
Parabéns.
Estou a fazer a minha estreia com esta autora. Não conhecia, mas como queria participar, procurei na internet onde encontrei muita coisa , agora vou enriquecendo com o que vou lendo nas blogagens. Muito boa a poetisa.
Abraços
7 de novembro de 2008 às 09:53
*****
Hoje não farei nada mais que navegar pelos lindos mares e deleitar-me com as homenagens prestadas à querida poetisa!
Parabéns pelo lindo post! Um esplendor de escolhas que tanto exprimem a obra de Cecília Meireles!
Parabéns pelo belíssimo blog! Adorei conhecê-lo!
Grande abraço.
*****
7 de novembro de 2008 às 10:46
Bom Dia, Sonia querida!
Estou visitando todos que hoje relembram esta maravilhosa escritora e me deliciando com os lindos poemas deixados.
Muito bom gosto sua lembrança – Cecília é sempre 10!
um abraço carioca
7 de novembro de 2008 às 11:34
Que texto mais que perfeito!!
Cecília realmente encanta, não é??!!
“É de saudade sua aflição diante da morte de um amigo, e ao despedir-se da bela namorada. E são lágrimas de saudade que caem dos seus olhos na terra africana, quando parte para a França a fim de se aperfeiçoar nos seus estudos. Saudades. Saudades! Saudades….”
Eu não conheciia!!!
Que lindooo!!!
Beijooos
7 de novembro de 2008 às 12:04
Menina, adorei o Post do Livrinho….
Eu sempre sinto os livros a me chamarem assim….
Fiquei emocionada !
7 de novembro de 2008 às 12:47
Gostei da poesia sobre a fortaleza e coragem dos que amam, não conhecia. A crônica, me lembrava vagamente e obrigada por me dar um ‘refresh’ na memória!! Boa blogagem!! Beijus
7 de novembro de 2008 às 13:58
Que post mais lindo. O poema Amor eu não conhecia e já passa a ser um dos meu prediletos.
Bela participação na coletiva.
Abraço.
7 de novembro de 2008 às 14:14
Boa tarde, estou eu a percorrer os diversos caminhos que essa blogagem está me permitindo hoje e cá estou eu diante dessa singularidade poética que é o seu post.
Eu costumo dizer que tenho fases como a lua, então pego emprestado o poema dela e visto-o em mim.
Abraços meus
7 de novembro de 2008 às 14:20
Parabéns.
Escolheu com carinho e alma cada palavra e verso desta postagem.
7 de novembro de 2008 às 18:15
Ola Sonia
Parabens pela postagem.
Cecilia continua encantando e emocionando.
Bjs
7 de novembro de 2008 às 19:16
Olá Sonia H, que belo cantinho e parabéns pelos poemas escolhidos e o texto. Paz e harmonia para vocês.
Forte abraço.
CAUROSA – caurosa.wordpress.com
7 de novembro de 2008 às 21:41
Sônia,você foi grande e acertou em cheio nos textos escolhidos para a homenagem à Cecília.Parabéns!! bjs!!!
8 de novembro de 2008 às 15:01
Sonia, 3 belas poesias.Impossível nao gostar de Clarice.bjs e dias felizes
8 de novembro de 2008 às 23:51
Querida Soninha,
Foi tão desfrutar da sua companhia nessa blogagem coletiva. É tão agradável receber os blogs amigos quando estamos unidos num mesmo ideal.
Adoro as crônicas do livro Escolha o seu sonho. Mas sou suspeita, existe alguma coisa da Cecília que eu não goste? rsrssrs
Estou muito feliz com a blogagem. Já recebemos mais de 160 blogs inscritos. É uma grande festa de amor dedicada toda ela a nossa poeta querida.
Obrigada! Obrigada! Obrigada!
Mil beijinhos!
Leonor Cordeiro
9 de novembro de 2008 às 18:31
Olá! Essa visitinha de hoje tem um motivo especial!
Quero convidar você a participar de uma mais do que justa homenagem a grande poetisa Florbela Espanca, que em 8 de dezembro faria aniversário… Gostaria de poder contar com você para distribuir pela blogosfera o perfume e o sabor de sua poesia, em Blogagem Coletiva no próximo dia 8 de dezembro, em “INTERLÚDIO COM FLORBELA”. Venha fazer parte desse grupo que aplaude e reverencia essa mulher excepcional que tanto contribuiu para a beleza do mundo com seus poemas!
http://interludioemflor.blogspot.com/2008/11/interldio-com-florbela.html
Beijos!
Flor ♥